O intraempreendedorismo e a importância das suas características
Sim, criar novas empresas e produtos tecnológicos novos é muito importante. Mas os que trabalham nas empresas por conta de outrem, os que trabalham com produtos de outras áreas, não têm lugar no pódio do sucesso? Quem descobrir uma esfregona que limpe sem precisar de água, não terá tanto valor como os que criam uma nova “app”? Foi para responder a estas estas questões que houve a necessidade de um novo conceito que se traduziu por “intraempreendedorismo”. Este novo chavão, surgiu para não deixar de lado os que, sendo igualmente empreendedores, mas não sendo empresários, trazem valor acrescentado às organizações onde se inserem.
Assim, os intraempreendedores são todas as pessoas que dentro da atividade que desenvolvem conseguem, a cada dia, identificar continuamente as oportunidades e potenciarem os negócios e os objetivos das empresas e das organizações. No fundo, são todos os que sendo ou não donos, diretores, ou sequer pertencerem a qualquer chefia, agem como se essa empresa ou outro de tipo de organização fosse sua. Os que “vestem a camisola”. São também aqueles, que no exercício das suas funções encontram novas formas de executar as suas tarefas, traduzindo-se num aumento de produtividade ou na melhoria da monitorização de resultados, entre outros.
Na verdade tudo isto são apenas conceitos, retórica, mas o que realmente importa é a capacidade de apresentarmos da melhor forma as características de cada um…
Atualmente, com a utilização constante (e talvez exagerada) de anglicismos, usa-se correntemente o vocábulo “skills” ou, quando em ambiente empresarial e profissional, “soft skills”. Mas tal termo refere-se mais às habilidades individuais, às capacidades que cada um pode ter e deve desenvolver, potenciar, melhorar continuamente. Mas o que está em causa nesta reflexão é algo diferente, são as características: as qualidades, mas também os defeitos. As coisas boas que cada um possui, mas também as menos boas ou, utilizando um eufemismo, os pontos a melhorar. Não somos nós um produto destas duas batalhas constantes entre o que é bom e o que é mau? Não serão algumas características que parecendo más, muitas vezes boas? Tomemos um exemplo clássico: a teimosia. Quantas vezes já ouvimos a frase:
– “O meu maior defeito é ser muito teimoso!”, aqui visto como sendo algo mau. Mas noutro prisma, não será que esta mesma característica pode levar alguém a dizer que se orgulha de ter sido teimoso. Que foi graças a essa teimosia, graças a ter mantido a sua opinião em detrimento da de todos os outros que conseguiu atingir um determinado objetivo. Cada um deve olhar para dentro de si e ver o que tem de melhor para cada situação.
Utilizemos uma vez mais um exemplo de uma característica que além de inata, é em grande parte desenvolvida ao longo da vida e do processo de aprendizagem: a linguagem. Enquanto meio privilegiado de comunicação, seja ela verbal ou não verbal, não restarão dúvidas que falar bem e eloquentemente, é uma característica boa. É, definitivamente, uma qualidade. Mas essa linguagem, a forma de comunicar, não pode ser igual independentemente das situações. Cada objetivo a atingir, cada ação a implementar, cada interlocutor ou conjunto de ouvintes a quem nos dirigimos pode obrigar a diferenciar essa nossa linguagem. É desejável que para algumas audiências se deixe de lado alguma da aprendizagem, dos vocábulos assimilados, da retórica e façamos uma comunicação mais simples, usando palavras menos complexas, mais acessíveis a todos. Diminuir o grau de eruditismo em alguns casos é melhorar a comunicação. É fazer melhor! E não vem mal ao Mundo se em algumas ocasiões levantarmos a voz e fizermos uma cara mais feia para fazer passar uma mensagem. Só não devemos, nunca, perder a boa educação.
Este rácio das qualidades e defeitos que tem como resultado as características que definem e acompanham cada um, devem ser sempre objeto de análise constante. Devem ser trabalhadas, claro que sim, mas acima de tudo devem ser adaptadas de forma natural.
Vivemos tempos de mudança constante, de alteração de paradigmas a uma velocidade quase louca. Sendo a pandemia provocada pela Covid-19 um bom exemplo de que as realidades de hoje, podem não o ser amanhã. Como tal, cada vez mais para podermos ser parte integrante de uma empresa, de uma organização, do Mundo, não basta sermos apenas bons técnicos e treinarmos, muitas vezes de forma rígida, as nossas qualidades. Quem contrata, quer ter ao seu lado pessoas que façam um balanço entre a razão e a emoção, que tenham paixão, que sejam lutadores, mas sempre com ética.
Os mais jovens, podem ainda não ter despertado para a necessidade de terem que ser empreendedores, ou intraempreendedores, mas ter a consciencialização dessa obrigatoriedade é fundamental para o seu futuro. E é esse despertar de consciências, um dos papéis, uma das missões, que a Associação Começar Hoje quer ter na Sociedade.
E não pode ser algo que se deixe para amanhã. É preciso COMEÇAR HOJE!
Nota: Neste artigo, o termo “empreendedores”, e outros em que predomine o género na grafia, designa em qualquer dos casos os géneros masculino e feminino.
Pedro Coelho,POR LINK TO LEADERS EM 14 ABRIL, 2020
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